quinta-feira, 16 de maio de 2013

Curitibanos dividem as ruas com 13 mil cães

O abandono de animais na capital paranaense tornou-se um grave problema de interesse público. E a Sociedade Protetora dos Animais enfrenta graves problemas para seu acolhimento. 


Por: Rafaela Sinderski

Cães sem lar em Curitiba: quase 3% do total de animais da cidade.
Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Tornou-se imagem comum ver cães, de diversos portes e raças, fazendo de calçadas, parques e estacionamentos seus lares precários na cidade de Curitiba. Também é ato corriqueiro topar com eles no trânsito, atravessando a rua ou apropriando-se dela. Nesses casos, freios e buzinas são soluções temporárias para o problema. Estima-se que, para quatro pessoas residentes na capital, há um animal. Desses, 3% estão em estado de abandono, segundo uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Paraná em 2012. São cerca de 13 mil animais circulando e vivendo nas avenidas de fluxo intenso e nas áreas de grande movimento da cidade. O cruzamento de tais números e fatos resulta em aborrecimentos e situações de abandono para os bichos.

Haílton Veiga, representante comercial, guia por um trecho movimentado ao seguir do trabalho para casa. Conta que, além dos demais carros e pedestres, precisa estar atento aos cães que surgem e desaparecem com rapidez e frequência ao longo da congestionada rua Brigadeiro Franco. “Eles passam pelo meio dos carros e quase causam vários acidentes. A gente freia porque não quer atropelar, mas alguém devia ficar de olho e tirar esses cachorros das ruas”, conta com certa indignação. O pesar pela situação dos animais é compartilhado por Soraya Simon, presidente da Sociedade Protetora dos Animais curitibana (SPAC): “Recebemos ligações diárias de pessoas que querem que a gente recolha animais abandonados. Acham que temos que pegar todos os cachorros e gatos que estão vagando nas ruas”, afirma, para completar que, hoje, a Sociedade está lotada, não podendo abrigar muitos outros animais. “A situação é crítica, são muitos animais e acabamos até perdendo ajuda de pessoas que não entendem que só podemos recebê-los em estado grave”, finaliza.

O problema se dá devido ao escasso número de instituições, entidades e cidadãos dispostos a colaborar com a situação. Soraya Simon contabiliza uma média de mil animais sendo abrigados pela SPAC, outros três mil recebendo os cuidados da ONG Amigo Animal e alguns poucos recolhidos por grupos independentes. Os demais permanecem habitando esquinas e praças.

A presidente admite a Sociedade tem abrigado os animais com muito custo. “O valor que a gente recebe não é suficiente para nos manter”, confessa, recordando de uma dívida da organização de, aproximadamente, 60 mil reais ao INSS. “Muita gente não entende, dizem: ‘é só ração’. Não é. Tem pessoas trabalhando lá”, desabafa. A dívida é referente ao pagamento dos direitos trabalhistas dos funcionários, que são todos registrados, e o montante, mais alto do que o grupo é capaz de arcar. “Tem gente que acha que ganhamos rios de dinheiro. Acham que é uma fortuna e não é. Sou voluntária na sociedade e preciso trabalhar em outro lugar para cobrir os gastos de atender lá”, diz Simon, que ainda completa: “Às vezes entra ‘milão’, ‘quinhentão’. Semana passada entrou dois mil”. Mas as doações de valores altos são raras. “Quem mais doa são pessoas que realmente acreditam no trabalho da Sociedade. Pessoas que ajudam com dificuldade, não porque está sobrando. Todo valor é uma ajuda! De vinte em vinte, de dez em dez, vamos juntando”, esclarece em tom agradecido.

Ana Lazzari, 19 anos, é estudante do pré-vestibular Positivo e convive com cães que fizeram das calçadas próximas ao curso um lar. “Sinto pena. Tenho dois cachorros em casa e acho triste que esses estejam nas ruas”, lamenta, e também questiona a eficácia da instituição responsável por protegê-los. A isso, Soraya Simon responde que a Sociedade é um lar temporário – e, no momento, impossibilitado de hospedar muitos mais – e depende do auxílio de doadores e da vontade de adotantes, “Há muito mais animais do que lares”, complementa, ao falar sobre a dificuldade de encontrar novos donos para os abandonados.

Como uma possível solução ao problema, a voluntária e presidente da Associação Protetora dos Animais de Curitiba aponta políticas públicas de auxílio e punição, além de maior restrição no comércio de cães. “As pessoas acham que só tem vira-lata nas ruas. Mentira. Recebemos muitos animais de raça que foram criados para a venda, que depois de serem explorados, na hora que não servem mais, são jogados fora”, alega. Para ela, trabalhar com a conscientização da população é importante, já que a organização não consegue cuidar de todos os cães necessitados. A questão seria evitar o abandono, ao invés de remediá-lo.

Para ajudar a SPAC

As doações, que são bem-vindas e necessárias, podem ser feitas no site da organização, onde também é possível candidatar-se para trabalho voluntário. Há, além disso, um guia dispondo de informações para adotar um novo amigo. Ao acessar a página, há um lembrete da situação em que se encontra a Sociedade, que pede paciência e compreensão ao contatar a entidade e frisa a superlotação do grupo.

Site Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba:http://www.spacuritiba.org.br/

Fonte: Blog Redação 13

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