sábado, 27 de março de 2010

A agonia do Rio Barigui

Barigui: até alguns restaurantes de Santa Felicidade ajudam a poluir o rio

O lago do Parque Barigui é bonito para quem vê de longe. Quem se arrisca a desrespeitar a placa de aviso – de que é proibido tomar banho – corre o risco de morrer: foi assim no último fim de semana com um guardador de carros que entrou no lago para pegar um aeromodelo e afundou no lodo depositado no fundo. Não se trata de uma fatalidade, mas de problema ambiental, segundo especialistas. Até mesmo um excelente nadador correria o risco de se “atolar na lama”. Isso porque o lago funciona como um decantador (filtra a água limpa e fica com a sujeira). E, se existe muito lodo no fundo, significa que ele está poluído, assim como o restante dos 60 quilômetros do Rio Barigui.

“O acidente com o guardador é um sinal de que ainda temos muita coisa para fazer”, afirma o presidente do Instituto Eko, Estefano Ulandowski – o instituto é vinculado ao Fórum Ambiental Pró-Barigui. O grupo tenta salvar o Barigui de sua agonia: o rio ainda vive, mas se continuar do jeito que está corre a passos largos para o mesmo fim do Tietê, em São Paulo. Será a morte na certa.

O problema da poluição do Barigui não é pontual. O rio tem cerca de 40 afluentes principais (são 300 se forem contados os pequenos rios) e pelo menos três deles estão em situação bastante crítica: os rios Campina do Siqueira, Uvú e Cascatinha. Esses dois últimos sofrem até com os tradicionais almoços e jantares em Santa Felicidade: há restaurantes do bairro que ainda não se ligaram à rede de esgoto. “Até uns três anos existiam trechos vazios em Santa Felicidade que não tinham a rede. A situação está gradativamente melhorando”, afirma a coordenadora técnica de recursos hídricos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Claudia Boscardin.
A realidade está melhor, mas continua longe de ser a ideal. Ao longo do Barigui, 60% das casas têm ligação com a rede coletora. Ou seja, muito esgoto ainda vai direto para o rio e acaba parando no lago do parque. “E quem pensa que a culpa é da periferia, está enganado. Vejam o Rio Belém. É na região central da cidade, onde existem condomínios e grandes prédios, que ele concentra sua maior poluição”, afirma Ulandowski.
Para o ex-presidente da As­­sociação dos Moradores e Amigos do Barigui Ari Becker, a população ajuda a poluir, mas a Sanepar também tem sua parcela de culpa. “Não é só lançamento de esgoto clandestino, mas a falta de manutenção da rede por parte da Sanepar. Existem locais onde a tubulação é subterrânea e, se ocorre o vazamento de esgoto, a companhia não detecta”, explica. A diretora de meio ambiente e ação social da Sanepar, Maria Arlete Rosa, afirma que a empresa tem um cronograma de manutenção da rede, mas que em alguns locais ela é muito antiga (as manilhas são de argila), por isso só há como saber que estourou se a população ajudar.
Não por acaso, o maior projeto de recursos hídricos da prefeitura envolve o próprio rio Barigui: uma parte dele já foi colocado em prática, mas ainda existe muita coisa para ser feita e sem prazo para terminar. No ano passado foram realizadas 14 mil vistorias em casas que ficam próximas ao rio ou a seus afluentes. A prefeitura também realocou 43 famílias que estavam em área de preservação permanente da bacia e, até o final de abril deste ano, pretende realocar as últimas 107.
Fonte: Gazeta do Povo - Publicado em 23/03/2010 Pollianna Milan
Foto: Hedeson Alves

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