Quando o curitibano Maurício "Shogun" Rua subiu nos ringues do Meca World Vale Tudo, no Rio de Janeiro, para enfrentar o assustador Evangelista Cyborg, em 2003, a maioria dos espectadores duvidou que ele pudesse vencer. O jovem de apenas 22 anos não se abalou, e mostrando técnica apurada no chão e em pé, nocauteou seu adversário num combate eletrizante.
Meses depois, ainda sob a sombra do irmão Murilo Ninja e do colega de academia, o então campeão Wanderlei Silva, Maurício estreava no evento japonês Pride, ainda visto com reservas pelos fãs do MMA. Após quatro nocautes, o discreto curitibano foi escalado para participar do Pride GP, em 2005, estreando contra ninguém menos que Quinton Rampage Jackson, estrela mundial do esporte. Seria uma presa fácil para o americano, imaginava a maioria dos fãs. Shogun venceu com um nocaute fulminante, em menos de cinco minutos de combate. Teria sido uma noite de sorte do brasileiro, ou uma luta sem inspiração de Rampage, muitos cravaram. Maurício não teria bala para bater Rogério Minotouro, irmão gêmeo da lenda Rodrigo Minotauro e destaque da academia Brazilian Top Team, maior rival da curitibana Chute Boxe. O baiano, com seu boxe de nível olímpico e seu jiu-jitsu com a chancela da equipe carioca, vinha de oito vitórias consecutivas, incluindo adversários renomados como Dan Henderson, Alistair Overeem e Kazushi Sakuraba. Mas, em uma luta épica, Shogun venceu por decisão, sendo superior na luta em suas três dimensões: trocação, wrestling e solo.
Veio, então, a noite da final do Grand Prix, quando todas as atenções estavam voltadas para o tão esperado embate entre o carioca Ricardo Arona e Wanderlei Silva, numa das semi-finais. Poucos se atentavam para o jovem de 24 anos que enfrentaria, na outra semi-final, Alistair Overeem, holandês com um muay thai de primeira linha. Contrariando todas as previsões, Shogun nocauteou Overeem no primeiro round, classificando-se para a final contra Arona, que havia vencido a outra semi-final minutos antes. Àquela altura, Ricardo Arona havia conquistado um feito incrível: batera Wanderlei Silva, invicto há mais de cinco anos na categoria até 93kg. O carioca adquiria o status de imbatível, e não seria o jovem curitibano que estragaria sua festa. Pois, novamente, Maurício Shogun entrou no ring incrivelmente calmo e, com leveza e naturalidade, liquidou Arona em menos de três minutos.
O mundo, pela primeira vez, passava a dar o devido respeito a Shogun. A promessa do esporte precisou conquistar um cinturão do Pride para ser visto como um lutador no topo da categoria. E, após novas consistentes vitórias no evento japonês, o curitibano desembarcou no UFC em 2007. Recuperando-se de contusão, estreou com uma performance irregular e foi derrotado por Forrest Griffin. Precisou enfrentar cirurgias com uma longa e difícil recuperação. Shogun retornaria ao octógono em 2009, com vitória sobre o americano Mark Coleman, numa atuação que ainda não convencia a audiência de que havia recuperado sua melhor forma. Talvez por isso, Maurício voltou a ser considerado azarão quando enfrentou, ainda em 2009, o ex-campeão dos meio-pesados do UFC, Chuck Liddell, lutador de mma mais famoso de todos os tempos nos EUA. Mesmo assim, bastou um round para que o brasileiro mandasse o americano à lona, em um nocaute impressionante.
A vitória sobre Liddell garantiu a Shogun a chance de disputar o cinturão da categoria, no mesmo ano, contra o carateca e compatriota Lyoto Machida, invicto na sua carreira de quinze lutas. O mundo do esporte voltou a menosprezar o curitibano. As casas de apostas pagavam mais de quatro vezes o valor da aposta para a vitória do desafiante, enquanto a aposta em Machida pagaria 1.2. A mídia internacional era praticamente unânime em apontar que o cinturão continuaria com o campeão. Com uma estratégia apurada, Shogun fez uma luta excelente, porém não o suficiente para convencer os jurados, que apontaram a vitória de Lyoto em três dos cinco rounds. A imprensa especializada, por sua vez, foi veemente em apontar o equívoco na decisão oficial, reconhecendo a superioridade de Shogun no combate. A mesma opinião foi apresentada por Dana White, Presidente do UFC, que assegurou uma revanche imediata para tirar as dúvidas sobre quem merecia ser o campeão.
Teria a performance na primeira disputa de cinturão sido suficiente para afastar a desconfiança geral sobre o potencial de Shogun? Ainda não. Na revanche, as casas de apostas ainda apontavam o favoritismo de Machida, assim como a maioria da imprensa esportiva. A opinião geral era de que o carateca, desta feita, já saberia qual a estratégia de Maurício, e conseguiria anulá-la para manter o cinturão. Na nova luta, em maio de 2010, Shogun então não deixou qualquer dúvida: mandou o campeão à lona no primeiro round, para tomar o cinturão dos meio-pesados do Pride.
Ao analisar esta tragetória, não será espantoso para o leitor saber que logo em sua primeira defesa de cinturão, o campeão Shogun seja considerado o azarão. O curitibano enfrentará a revelação Jon Jones, americano de 23 anos que vem encantando o público com um wrestling muito eficiente e nocautes fulminantes. Público, imprensa e casas de apostas veem em Jones um lutador mais completo, com mais vigor e técnica, pouco importando que seu cartel de vitórias não contenha nenhum adversário de peso.
A desconfiança não abala Maurício Shogun. Ele sabe que parte do prestígio que se dá a Jones atualmente é fruto do que ele próprio, Shogun, conquistou, ensinando o mundo a respeitar lutadores jovens. Hoje, detentor de um dos cartéis mais consistentes em toda a história do mma, o brasileiro está focado em apenas uma coisa: lutar, mostrar novamente seu potencial, e manter o cinturão do UFC em solo brasileiro. Se passarão finalmente a lhe dar o reconhecimento definitivo com mais uma vitória, pouco importa. Maurício Shogun tem o respeito e a torcida dos brasileiros e de grande parte do mundo das lutas, que acreditam e sempre acreditarão neste que é indiscutivelmente um dos maiores lutadores da história do esporte.
Chegou a hora! Mauricio Shogun defenderá seu título dos meio-pesados do UFC esta noite, em Newark (EUA), contra Jon Jones, no UFC 128.
A pesagem oficial aconteceu nesta sexta-feira e todos os lutadores bateram o peso. Apesar de o clima não ficar tenso na hora da tradicional encarada, Shogun deixou claro seu descontentamento com Jones ao ser perguntado sobre o que acha de o desafiante já dar autógrafos assinando como campeão.
“Encaro isso como um desrespeito e amanhã (hoje) nós vamos ver quem é o melhor”, disse Shogun, “Com certeza ele é um grande lutador, mas este cinturão é meu e continuará sendo meu”.
O UFC 128 contará ainda com a presença de mais cinco brasileiros: Raphael Assunção, Ricardo Cachorrão, Gleison Tibau, Edson Junior e Luis Banha.
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