quinta-feira, 25 de abril de 2013

PATAGONIA RUN 2013 por DAIANE LUISE SOUZA


Relato sobre a prova Patagonia run 2013 - 100k – Ultratrail de montanha 

Realmente uma grande corrida de montanha, aliás, uma linda e bem organizada ultramaratona de montanha. Show de evento. Como funcionava: Estava tudo dividido em setores na cidade o que deixava mais tranquilo cada etapa em função do numero de participantes: 2700 corredores! Local 1 - retirar material da prova. Local 2 - pegar a camiseta e Foto oficial. Loja: Brinde bom da Mountain Hardwear que cada prova ganhavam algo diferente. Sem muitas filas, tudo ótimo. Local pra deixar material extra em 2 pontos de apoio da corrida. Largada com horário diferenciado pra que os corredores de todas as provas (10/21/42/63/84/100km) chegassem em horários próximos. Premiação no horário marcado. Premio em voucher de compras para as categorias e premio em dinheiro e brindes para o geral. Tudo pronto. E assim fui para a largada da minha primeira prova de ultratrail de verdade. 95% de trilha. Adrenalina a mais no sangue. A digestão fica comprometida devido a ansiedade. Fui como sempre com o intuito de terminar a prova com o resultado positivo de ficar entre as 10 primeiras colocadas, o que para uma primeira ultratrail internacional e representando meu país me deixaria muito feliz (nessas competições é uma sensação muita boa ser olhado como brasileira corredora, não só um nome. Dá um grande orgulho de estar lá quando lembro disso). Mas fui além do que imaginava, e acabei em 2º lugar geral feminino, 1º na categoria 30-39 anos, 19º no geral entre 360 participantes. Alegria que não cabia em mim, emocionou-me estar com meus amigos – Nelson, Roseane e Giulio que fizeram 63k 21k e terminaram também muito bem classificados para uma primeira corrida de montanha – e até chorei quando vi eles me esperando na chegada e sorrindo muito felizes ao me ver...foi inevitável a choradeira. Primeiro por que fui mais longe do que imaginava. Sabia que haveria grandes corredoras na disputa e eu era a iniciante naquela distancia ali. 

As três coisas que analiso para a estratégia de uma corrida longa: 1º - O que eu to fazendo ali (neste caso terminar e disputar se for possível, e isso só descubro depois da largada)2º como vou comer 3º como vou recuperar meu sistema gástrico se ele me atrapalhar, o que é bem comum acontecer... Após essa analise decidi: vou tentar acompanhar o ritmo das primeiras até onde eu conseguir. Queria saber como as corredoras que no outro ano estavam no pódium correriam. Fui. Feliz da vida e suando a camisa no frio de 0°C graus da largada segui firme as meninas por 5 km e vi que não seria fácil. Ritmo de prova de maratona de montanha. Dúvida cruel: continuo arriscando ou baixo o ritmo? Largada as 00:00hr de sábado. Primeiro: no 3km tive dor de barriga... rsrsrsr.Tinha que resolver isso pois iria me atrapalhar nos próximos kilometros, e isso me atormentou a corrida toda. Tive que controlar a glicemia e hidratação de forma intensiva. Só pensava nisso o tempo todo e fui por 14 horas brigando com meu sistema digestivo – digo que essa foi a parte mais difícil. Chegou um ponto que só pensava no que tinha comido, a quantos minutos, o que tinha que tomar, se era água ou gatorade, se comia algo salgado ou algo doce, sal, e o pior, correndo de forma intensa por horas o enjoo é inevitável e suplementos como gel por exemplo que em treino até vai, não descia de jeito nenhum. Levei 10 e tomei 1e ½. 


Segui as primeiras por 15, 20 km e na subida pro Cerro Colorado, segunda subida longa que teríamos, numa ascensão de uns 750mts de desnível íngremes eu perdi elas de vista e aí decidi seguir meu ritmo. Mas estava motivada e então mantive velocidade mesmo andando. Aliás, as subidas da montanha na sua maior parte são feitas andando pela maioria das pessoas. Pena que nossa corrida largou a noite, pois o visual deve ser lindo dos cumes que passamos. Frio piorando mas foi possível manter-me na corrida toda com a 2º pele (camiseta de tecido especial que segura melhor a temperatura do corpo)e anorak (jaqueta impermeável) e a camiseta de prova por cima disso. Nos cumes bateu -5°C e onde ventava até -10°C, mas correndo deu pra suportar. Os experientes com o frio estavam até de bermudinha de verão! Lá pelo km 40 encontrei novamente as primeiras. Uhuu! Pensei comigo, nem acreditando que estava ali com elas descendo o Cerro Quilanlahue, que foi mais 650mts de desnível de subida forte com uns 750mts de descida forte distribuídas em apenas uns 2km!!! Mas a dúvida cruel chegou: ultrapasso ou fico aqui atrás? Como adoro descidas rápidas e elas estavam mais lentas que eu, decidi em questão de segundos o que iria fazer: “soquei a bota” e pensei agora ou nunca!!!Era um verdadeiro tiro no escuro, pois a prova não estava nem na metade, já tínhamos passado as três piores subidas e descer rápido queima muita energia. Sabia que ia gastar minhas pernas mas era única oportunidade que eu talvez tivesse de fazer diferença. Arrisquei. Desci rápido e logo depois da descida cheguei no posto de abastecimento. Peguei mais bala de goma de menta e biscoito salgado (era a única coisa que eu conseguia comer) tomei um gole de caldo quente salgado e em 30 segundos estava correndo .pensei: agora preciso manter um ritmo moderado pois ainda tenho 58km pela frente...Respirei e rezei pra elas não me alcançarem. Mantive bem até o 70 mais ou menos e aí comecei a ficar lenta. Na corrida ficamos tendo diversos altos e baixos de energia e esse é o grande diferencial, manter a energia e hidratação em equilíbrio. É bem difícil. Olhei pra trás e vi uma mulher. Coração acelerou, respirei fundo e pensei – “tudo bem se me passar pois mostra que esta melhor que eu então merece estar na frente”. Mas também pensei : preciso me recuperar, vou tentar acompanhar o ritmo dela e seja o que Deus quiser!!! A chilena Marlene flores, experiente corredora de ultras me passou. Puxou o ritmo e me quebrou as pernas...hahaha. Mas eu não desisti não! Estávamos perto do km80 quando resolvi não me preocupar mais com ela e sim com o ritmo que tinha que ter pra terminar bem a corrida sem me machucar. Pensei também que se mantivesse um ritmo moderado a argentina Sofia Cantillo que eu acreditava estar em 3ºpoderia não me alcançar mais. (2ª colocada no ano passado). Assim me concentrei em equilibrar minha alimentação e controlar minhas dores que começavam a aparecer. Dor na minha tendinite crônica do pé, dor na lombar e nos joelhos cansados, que na descida tem que utilizar diversas técnicas diferentes para que eles aguentem o tranco. Aí começou efetivamente meu trabalho mental, pois quando se tem alguém pra literalmente “perseguir” existe um ponto motivador que te faz esquecer as dores e sensações desagradáveis, mas quando está sozinha correndo, a natureza pode até ajudar a prosseguir, pois o lugar é surreal de lindo, mas o silêncio interno faz ouvir melhor o corpo e aí começa a ficar psicologicamente difícil. Últimos 15km tensão constante pois queria muito manter o segundo lugar, meu corpo começava a querer falhar e minha mente me colocava pra correr “custe o que custar”! 

Cheguei ao posto de hidratação de bayos, km 92 estava lenta me sentindo sem energia. Sabia que tinha diminuído muito o ritmo e estava com medo que tivesse alguém bem próximo a mim. Hidratei, tentei comer, parei 1 minuto alonguei me concentrei e sai correndo com a mente preparada pra não parar de correr até a chegada. Mas eu achava que não tinha mais subida e era só descida até San Martin por trilha e ultimo km de asfalto. Sonho meu... lá veio mais praticamente 2km de subida que é claro tive que andar pois minhas pernas não me obedeciam...mas pensei: se eu to meio morta todo mundo tá pois se não alguém já teria me alcançado... 


Enfim, lutei muito para me manter correndo até o final, mesmo na descida estava difícil, pois as dores musculares eram fortes. A cada passada que eu dava minha cabeça só pensava na chegada, mas não conseguia imprimir maior velocidade. Nos 3km últimos estava descendo uma estrada maravilhosa, descida íngreme com umas arvores gigantes e lindas do meu lado, que me ajudaram a distrair a mente e curtir o que tinha sido a maior e mais difícil corrida de montanha que já fiz. Pensava em tudo que tinha passado na prova, tudo que treinei os esforços que fiz pra estar ali, e não conseguia responder naquele momento o porquê de participar de ultras pois é realmente sofrido fisicamente realizar uma prova desse tamanho. Mas ao passar o pórtico de chegada eu entendi isso. Uma sensação que eu não vou conseguir explicar em palavras. Uma emoção sem explicação. Que eu acredito que toda pessoa que já participou de uma corrida de qualquer distância, qualquer um que passou pela chegada de uma competição, atravessou um pórtico esportivo seja em primeiro ou em último lugar, ou mesmo conquistou algo que trabalhou muito para ter, enfim “chegou”, sabe o que eu senti. Missão cumprida. Prazer em ter terminado o que decidi conquistar. Sonho realizado. Que venha a próxima!!! AGRADEÇO MUITO AS EMPRESAS QUE NOS APOIARAM E AO GOVERNO DO ESTADO QUE PATROCINOU NOSSA VIAGEM ATÉ A PATAGONIA. ALTISEG, R2L, FISIOPILATES AGUA VERDE E FEPAM. 

Por DAIANE LUISE SOUZA - AMIGA DO PARQUE BARIGUI

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